Dentro da gestão de riscos proposta pela ISO 31000, existe um ponto de inflexão que separa organizações maduras daquelas que apenas “mapearam riscos no papel”: o tratamento do risco.
Após identificar, analisar e avaliar os riscos, chega o momento decisivo. Quando um risco não pode ser simplesmente aceito, a organização precisa definir como vai lidar com ele, na prática. É aqui que decisões estratégicas, operacionais e financeiras se encontram.
O que é o tratamento do risco
O tratamento do risco é a etapa em que a organização define ações concretas para modificar um risco identificado. Essas ações podem ter diferentes objetivos:
- eliminar o risco;
- reduzir sua probabilidade;
- reduzir suas consequências;
- transferir ou compartilhar impactos;
- ou até postergar a decisão para um momento mais adequado.
Importante: tratar risco não significa eliminar todo risco. Significa tomar decisões conscientes sobre ele.
As principais estratégias de tratamento do risco
A ISO 31000 apresenta diferentes possibilidades de tratamento. Cada uma delas é válida dependendo do contexto, do impacto, do custo e do benefício envolvido.
1. Evitar o risco
Evitar o risco significa não seguir adiante com a atividade que o gera.
É uma decisão comum quando:
- o risco é alto demais;
- o benefício esperado não compensa;
- ou a organização não tem capacidade de controle adequada.
Exemplo prático:
Um projeto é analisado e o risco de falha é considerado excessivo. A decisão mais racional pode ser simplesmente cancelar o projeto. O risco deixa de existir porque a atividade não acontece.
Evitar risco não é fraqueza — é gestão responsável.
2. Assumir (aceitar) o risco conscientemente
Nem todo risco precisa ser eliminado. Em muitos casos, o benefício esperado justifica a exposição.
Assumir o risco significa reconhecer:
- que ele existe;
- que foi analisado;
- e que a organização está disposta a conviver com ele.
Isso acontece quando o impacto é pequeno ou controlável, ou quando o ganho potencial é significativo.
Toda decisão empresarial envolve risco. A diferença está entre assumir riscos sem análise e assumir riscos de forma consciente.
3. Remover a fonte do risco
Outra estratégia poderosa é eliminar a causa raiz do risco.
Se um insumo, equipamento ou processo é a origem do problema, a solução pode ser substituí-lo por outro menos agressivo ou mais seguro.
Exemplos:
- trocar uma substância perigosa por uma alternativa menos nociva;
- substituir um equipamento ruidoso ou inseguro;
- alterar um processo produtivo que gera exposição desnecessária.
Quando a fonte é removida, o risco frequentemente desaparece junto.
4. Reduzir a probabilidade do risco ocorrer
Aqui o foco é evitar que o evento aconteça.
Como isso é feito?
- treinamento adequado;
- manutenção preventiva;
- melhoria de processos;
- uso de materiais de qualidade;
- controles operacionais.
Essas ações diminuem a chance de ocorrência do evento indesejado.
Na prática, reduzir probabilidade costuma ser a estratégia mais eficaz, porque evita o problema antes que ele aconteça.
5. Reduzir as consequências do risco
Quando não é possível evitar o evento, o foco passa a ser reduzir seus impactos.
É o caso de:
- dispositivos de segurança;
- sistemas de proteção;
- equipamentos de proteção individual (EPIs).
Esses controles não impedem o acidente, mas reduzem suas consequências.
Importante: EPIs são fundamentais, mas não devem ser a primeira linha de defesa. Eles atuam no efeito, não na causa.
6. Compartilhar o risco
Compartilhar risco significa dividir o impacto com terceiros especializados.
O exemplo mais clássico é o seguro.
Ao contratar um seguro, a organização:
- transfere parte do impacto financeiro;
- garante capacidade de recuperação;
- reduz exposição a perdas severas.
O risco continua existindo, mas a capacidade de resposta melhora significativamente.
7. Reter o risco para um momento futuro
Em alguns cenários, o melhor tratamento é adiar a decisão.
Isso acontece quando:
- o risco é alto no momento atual;
- o contexto externo é instável;
- mas o projeto continua sendo interessante no longo prazo.
Exemplo: risco cambial elevado em um cenário geopolítico instável. A organização reconhece o risco, mas decide esperar um ambiente mais favorável.
Como escolher o melhor tratamento
Não existe resposta única.
Cada alternativa envolve:
- custo;
- eficácia;
- facilidade de implementação;
- impacto residual.
Às vezes, investir em controles não compensa. Em outros casos, o seguro é mais racional. Em alguns, a melhor decisão é simplesmente não fazer nada agora.
O papel do gestor é conhecer todas as opções, avaliar os trade-offs e tomar decisões conscientes.
Para refletir
Gestão de riscos não termina na identificação ou na análise. Ela se concretiza no tratamento.
Organizações maduras não eliminam riscos indiscriminadamente, elas decidem como conviver com eles de forma estruturada, consciente e alinhada à estratégia.
Quando o tratamento do risco é bem feito, ele deixa de ser um problema e passa a ser um instrumento de tomada de decisão
Resumo executivo
- Tratamento do risco é a etapa onde decisões práticas são tomadas.
- Existem múltiplas estratégias: evitar, assumir, remover fonte, reduzir probabilidade, reduzir consequência, compartilhar ou reter.
- Reduzir a probabilidade costuma ser mais eficaz do que apenas reduzir consequências.
- A melhor decisão depende de custo, impacto, contexto e benefício.
- Gestão de riscos madura é decisão consciente, não eliminação cega.


